domingo, 1 de novembro de 2015

As “Alices” do cinema e seus diferentes Países das Maravilhas


Alice no País das Maravilhas é um clássico da literatura britânica e a obra mais conhecida de Lewis Carroll. Sendo uma obra nonsense publicada em 1865, suas adaptações mais antigas podem ser consideradas bizarras, até chegarmos à famosa Alice de 1951 (Disney). Aí vão algumas versões mais famosas dessa fantasia que diverte as crianças e encanta os adultos.

A primeira Alice (1903)


A primeira aparição de Alice no cinema foi em 1903, num filme mudo britânico de aproximadamente 9 minutos, dirigido por Cecil M. Hepworth e Percy Stow. A atriz era May Clark e ganhou notoriedade por essa interpretação.

Alguns personagens fantásticos da estória são interpretados por humanos vestindo-se desses personagens, como o Coelho Branco, e outros são representados por animais de verdade, como o Gato de Cheshire. O filme é todo em preto e branco e seu cenário tem formas exageradas, trazendo-nos o mesmo sentimento nonsense que o livro passa. 

O filme estreou quando o cinema tinha apenas oito anos de existências e essa versão foi aclamada pelos efeitos especiais que foram usados, como o encolhimento de Alice na sala das portas. 

Alice recebe sua versão norte-americana (1915)


Em 1915, Alice recebeu uma versão norte-americana. É, como o de 1903, um filme mudo, mas a grande diferença entre os dois é que esse tem mais duração (aproximadamente 42 minutos) e, por conta disso, tem mais cenas do livro incluídas. 

Algo interessante é que, no início, Alice caminha com sua irmã até chegar no gramado, onde elas sentam e Alice adormece. Nesse caminho, elas encontram um coelho branco e um gato, ambos animais de verdade. Mas, quando ela adormece, esses personagens ganham uma forma mais fantasiosa, sendo humanos vestidos desses animais. O gato se torna aquele famoso gato com cara de trapaceiro que conhecemos e o coelho branco usa uma espécie de blazer. Isso acontece com praticamente todos os animais no sonho de Alice. E os humanos têm expressões e vestes bem caricatas. 

O filme deixa bem claro que Alice está sonhando e faz essa mistura da sua realidade com o sonho. Foi escrito e dirigido por W.W. Young e quem interpretou Alice foi Viola Savoy. 

Alice agora pode falar (1931)


Para homenagear o centenário de nascimento de Lewis Carroll, em 1931, foi feita a primeira adaptação do livro para o cinema que contém falas. Foi dirigida por Bud Pollard e Ruth Gilbert protagonizava Alice.

É um filme independente, de baixo orçamento, a maioria dos atores são amadores e estadunidenses que se esforçaram para reproduzir um sotaque britânico durante a interpretação. 

Não se difere muito das versões anteriores na questão do enredo. Seu grande diferencial é ter usado os diálogos originais do livro. Mesmo dando esse passo notável dentro das adaptações do clássico, o filme não foi bem sucedido financeiramente, não recebeu muita atenção da crítica e também nunca foi passado na televisão. 

Uma mistura de live-action e animação (1933) 


Com o centenário de Lewis Carroll, ocorreu uma “febre” de Alice no País das Maravilhas em filmes, teatros, músicas e até em desenhos animados. Todos queriam faturar usando esse tema que estava tão em alta. Nessa onda, Norman Z. McLeod dirigiu a versão de 1933, em que Alice, interpretada por Charlotte Henry, aparece com seu famoso vestido clássico baseado nas ilustrações originais de Sir John Tenniel. 

Foi produzido pela Paramount Pictures, que reuniu algumas de suas estrelas para interpretar os diferentes personagens da estória. Algo muito peculiar para a época é a inserção de uma parte animada no filme, pois a maior parte é em live-action, exceto pelo trecho “A Morsa e o Carpinteiro”, que é feito em animação. 

Outra curiosidade é que o roteirista (Joseph L. Mankiewicz) mesclou duas obras de Carroll: As Aventuras de Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá. Ele incluiu personagens e esquetes de ambas as estórias. Além disso, baseou-se, principalmente, na peça teatral contemporânea de Eva Le Gallienne e Friebus Flórida. 

Um País das Maravilhas precisa de cores (1949)


Em 1949, Alice entra pro País das Maravilhas dos filmes coloridos. Ganha sua versão francesa, dirigida por Dallas Bower. Quem interpreta Alice é Carol Marsh e nessa adaptação, até o próprio Lewis Carroll entra na estória como um personagem, sendo interpretado por Stephen Murray. 

A maioria das cenas no País das Maravilhas é em stop-motion e os personagens fantásticos são interpretados por fantoches criados por Lou Bunin, um americano criador de marionetes e pioneiro da animação stop-motion. E para dar aquele toque de “realidade VS fantasia”, alguns atores da live-action dublam os personagens fantoches do País das Maravilhas. 

O filme infelizmente não teve o sucesso esperado, pois dois anos depois a versão da Disney seria lançada, e em 1949 todos já sabiam disso. 

Alice e seu país tem um grande fã (1951) 


Foi lançada, então, a tão esperada versão da Disney. Desde a juventude, Walt Disney sempre teve o desejo de adaptar a estória, pois era um grande fã dos livros de Carroll e ficou encantado quando leu sobre as fantásticas estórias de Alice quando ainda era um garotinho. Seu engajamento na produção do filme era grande e a supervisão da animação foi feita por ele mesmo, sendo esse seu último trabalho nos seus estúdios. 

A ideia inicial era que o filme fosse, como a versão de 1933, uma mistura de live-action e animação, mas em 1946 a Disney decidiu fazê-lo todo em animação. A semelhança que ficou entre as duas versões é que ambas unem partes de Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho e O Que Ela Encontrou Por Lá. 

Com seu ar de psicodelia, essa animação maluca coloca em vigor uma Alice curiosa, esperta, sonhadora e cansada da monotonia. Quebra o padrão de romance meloso da época, onde a personagem principal é frágil e desprotegida à procura do príncipe encantado. Alice quer ter seu próprio mundo e não quer mais saber de ter que ouvir a lição de casa de sua irmã mais velha.

O longa foi muito criticado no seu lançamento, pois até mesmo os criadores do filme e o próprio Walt Disney sentiam que o filme não correspondia às expectativas. Apesar disso, a animação mostrou-se a frente do seu tempo e com o passar dos anos ganhou seus títulos de clássico e melhor adaptação cinematográfica do romance de Lewis Carroll.